História feita por: Paloma Dias
Perda.
Meu irmão e
eu estávamos sentados na mesa da sala de jantar, como sempre nós tomávamos o
café da tarde em família.
Eu estava
muito feliz pelo fato de ter passado no exame mais importante que me ajudaria
ir para a faculdade, meu pai é meu melhor amigo, não que meu irmão não seja
apenas sou mais chegada a ele, e toda ajuda que precisei meu pai estava lá
presente, não via a hora de contar-lhe sobre a maravilhosa novidade.
Não demorou muito
para ele e minha mãe descer as escadas e se ajeitarem na cadeira com panos
bordados no assento, meu pai estava um pouco sério, minha mãe também, já estava
virando rotina ver os dois com cara fechada, papai puxou assunto após pigarrear
a garganta pela terceira vez naqueles minutos após ter sentado.
_E o exame, Drew?
_Adivinha? -
perguntei entre um gole e outro do meu refrigerante de maçã.
_Fala querido! -
disse mamãe apoiando os cotovelos e se acomodando em frente ao seu prato.
_Passei! - respondi
abrindo um sorriso.
_Já sabia... Enfim,
papai como combinado estou esperando para que você me leve no jogo dessa
semana! - disse Thiago.
_Mas você perdeu a
aposta- disse mamãe sorrindo para o meu irmão, que na verdade é filho de outro
casamento do meu pai com outra mulher.
_Para comemorar,
Drew passou não é? Precisamos de uma comemoração.
_Boa ideia - amanhã
quando terminar tudo lá na empresa eu volto correndo e levo vocês até o jogo.
_Mas e a mamãe? -
perguntei.
_Vou ficar aqui meu
bem, preciso arrumar a lição para as crianças amanhã! - disse minha mãe
justificando-se, ela é professora, tinha muitos trabalhos pendentes para olhar
e corrigir.
Papai bebeu um
pouco de água, encostou-se à cadeira e ficou pálido e trêmulo.
_O que houve
querido? - perguntou minha mãe o encarando preocupadamente.
_Pai... Como você
está se sentindo? - levantei-me depressa e fui para perto do meu pai.
_Tudo sim, filho! -
apertou a toalha de mesa que cobria a mesa de mármore, apertava cada vez mais,
até seus dedos ficarem vermelhos, por conta do sangue preso no local - só um
pouco exausto, não há com o que se preocupar.
_Certeza? -
perguntou Thiago até então quieto e atônito vendo seu pai ficando branco cada
vez mais.
Meu pai se levantou da cadeira
com a ajuda da minha mãe, e subiu cambaleando para o quarto, mãe foi subindo
atrás, fiquei na mesa, sem fome, olhando Thiago, vendo seu rosto estampado de
preocupação, afinal, não havia sido a primeira vez que ele tinha ficado daquele
jeito, e aquilo estava realmente nos preocupando cada vez mais.
Na
manhã seguinte, meu pai estava melhor, mas com muita dor de cabeça, ele se
queixava frequentemente, fiquei preocupado (obvio, todos nós ficamos), porém
estávamos mais aliviados pela melhora, papai chegou do trabalho e se arrumou,
ele estava sem fome então, ficou sentado nos assistindo a comer. Finalmente
saímos de casa, rumo à quadra de basquete que ficava a poucos minutos de casa,
estacionamos e rapidamente já estávamos olhando os homens altos e suados
correndo e passando a bola de um lado para o outro. Pude ver pelo canto do olho
meu pai fechando os olhos e se apoiando sobre o ombro de meu irmão, novamente
passando mal e suando frio.
Ficamos uma hora no jogo antes de
vê-lo passando mal, tivemos que levar meu pai para a casa, Thiago foi dirigindo
e eu servido de apoio a meu pai, eu estava desnorteado, desesperado e ultra
preocupado com a saúde do mesmo. Levamos meu pai para o quarto e o colocamos na
cama, minha mãe ainda estava no escritório e nem nos viu entrar em casa,
sentei-me no sofá e tentei me acalmar bebendo um pouco de água com açúcar e
mentalmente pedindo a Deus que meu pai melhorasse e que tudo aquilo passasse.
Três dias
após o ocorrido, meu pai finalmente começou a se alimentar melhor, mas percebemos
durante esses dias que estava aparecendo algumas manchas em seus braços,
algumas roxas e outras levemente avermelhadas, e sempre que nós achávamos que
ia melhorar ele reclamava de dor nos ossos e algumas vezes sangrava o seu
nariz. Nem sempre a gente via meu pai daquele jeito, só quando ficava realmente
doente, mas tinha em mente que aquilo logo iria passar. Subi para o quarto e
arrumei as malas para ir para a faculdade, alegria estava a mil, meu sorriso
estava de orelha a orelha. Depois de duas horas cheguei na faculdade, exausto,
com sono e morrendo de fome, a viagem havia sido longa e meu corpo pedia cama. Passaram-se
algumas semanas, quase um mês. Fiz os exames necessários na faculdade e comecei
a frequentar como aluno, estava mais do que feliz, realmente me sentindo
realizado, estava com saudades da minha família e meus pais, e estava com muita
vontade de ligar para meu pai e contar tudo o que havia acontecido naquele
tempo e ouvir a voz orgulhosa dele pelo telefone, eles não haviam me ligado
mais, mas mesmo assim ninguém poderia estragar a minha felicidade... Só achei.
PLIM PLIM...
Fez o som do
telefone celular.
_Alô? - falei
com a boca perto do aparelho celular
_Oi meu
filho... - ouvi a voz da minha mãe chorosa do outro lado da linha.
_Tudo bem
mãe?
_Bem sim
filho... - ouvi os seus soluços do outro lado.
_Passa o
telefone para o pai.. Tenho tantas coisas a contar...
_Filho... Seu
pai... Ele faleceu...
Naquele
momento achei que era brincadeira, e muito de mau gosto.
_... De
leucemia... A gente fez exame nele alguns dias atrás... E não tinha mais
jeito... Na madrugada passada ele passou mal, e não saiu mais do hospital e
hoje de amanhã o médico me avisou da morte dele... - chorou e assoou o nariz.
Naquele momento meu telefone caiu
no chão, meu mundo desabou sobre minha cabeça, me senti sem saída, sem meu
melhor amigo... Meu pai, e ainda para sempre.
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